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GDRA

Qualquer pessoa, mesmo não sendo propiamente “amante” de futebol, facilmente admite que ele é o desporto mais popular e enraizado na nossa cultura. Esse jogo terá surgido na segunda metade do século XIX, em Inglaterra, e chegado a Portugal no final desse século. Há, até, quem vinque que o primeiro jogo realizado no nosso país se efetuou nos Açores.

O facto, indesmentível, é que o futebol motiva paixões, muitas vezes exageradas. Ele consegue constitui-se como agregador das comunidades. A Agualva não foge a essa lógica.

O futebol, na Agualva, surgiu por volta de 1962, por iniciativa de um grupo de agualvenses onde se contavam os Srs. Alvarino Rocha, José Augusto, José “Casinha” e Manuel “Ratinho”. O esforço desses e de outros homens permitiu a criação de uma sede numa das lojas do Adro (no espaço que hoje alberga o café “Juniores Pub”), altamente lucrativa, pois muitos dos membros da Direção e mesmo jogadores trabalhavam na BA 4, onde compravam produtos que eram aí revendidos com boa margem de lucro.

A equipa, intitulada de “Ação Católica da Agualva” (na sequência do movimento criado pelo Papa Pio XI, em 1929) fez o seu primeiro jogo em 1962, ano da inauguração do Campo de Jogos (num terreno na Ribeira das Pedras, onde hoje se encontra a Casa Mortuária). Essa partida realizou-se contra a forte equipa dos Teólogos do Seminário de Angra e contou com a vinda de uma delegação oficial do Seminário à Agualva, onde foi recebida pelo Pe. José de Meneses. Da primeira equipa, treinada e capitaneada por Caetano Picanço, figuravam nomes como os de David “Tesoureiro”, Eduardo Ratinho, António Coelho (Bexiga), Jorge “Socouto”, Fernando e Leonel “Ratinho” e os três irmãos Ávila, Noé, Domingos e António.

Os jogos não obedeciam à lógica de um calendário e/ou campeonato, mas partiam de convites e acordos estabelecidos entre as diversas equipas, não assumindo, portanto, um caráter oficial. Ainda assim, os eram bastante disputados e atraíam grandes massas de gente ao campo da Ribeira das Pedras (não havia bancada).

O Grupo Desportivo Ação Católica da Agualva perdurou por cerca de cinco anos, após o que se extinguiu.

Com o 25 de Abril e a maior aberta social e política da sociedade começaram a multiplicar-se os clubes e as associações desportivas. Foi nessa sequência que surgiu o Grupo Desportivo e Recreativo da Agualva.

A ideia partiu de um grupo de jovens que tinha por hábito juntar-se para jogar futebol. Faziam-no por amizade, convívio e gosto pela modalidade. O mesmo sucedia em muitas outras freguesias, a ponto de, por via de contactos entre elas, se começaram a efetuar jogos, aos fins de semana, entre esses grupos representativos de freguesias e/ou lugares. Esses encontros, embora sem caráter oficial, continham uma forte carga simbólica e emocional, porquanto punham em campo a defesa da freguesia que cada conjunto representava. Registe-se que os equipamentos eram garantidos integralmente pelo próprio grupo que angariava verbas junto de cada um dos seus elementos.

Desse grupo faziam parte Senhores como o já veterano Cipriano Picanço, “Manuel Café”, Carlos Rocha (Subica), José Adriano Godinho, Januário Linhares Júnior, Serafim Carreiro, João Freitas (Romeiro), Diamantino Borges, Gabriel Silva, Mário Jorge Meneses, Manuel Dinis (Rombinha), Francisco Machado (emigrante nos EUA), Francisco Nunes (Marlon), filho do António Bexiga, Manuel Brasil, Emanuel Monteiro, Francisco Godinho e José Luís Garcia (Xalhinha).

Na Agualva, os jogadores reuniam-se e treinavam frequentemente, quer no campo da Ribeira das Pedras (referido atrás), quer num segundo campo, instalado nos terrenos da antiga NAVY americana, também na Ribeira das Pedras.

Por uma questão de centralidade, muitos dos treinos/encontros eram feitos no pátio da escola primária, no centro da freguesia. Mas não sem alguns percalços: a polícia frequentemente aparecia a suspender os jogos e houve até uma ocasião em que, inclusivamente, arrastou para a esquadra todos os jogadores (21) sob a acusação de estarem ilegalmente a jogar futebol no pátio da escola. Obviamente que o processo não deu em nada, mas não foi esquecido até aos dias de hoje.

A fama alcançada pelo grupo, associada ao surgimento do ENDO (Encontro Nacional de Desporto), em 1975, vieram facultar a oficialização do futebol na Agualva. Nesse ano deslocou-se à Agualva uma delegação do ENDO, com o intuito de proceder a várias demonstrações de atletismo e andebol, tentando cativar jovens para essas modalidades. No âmbito dessa passagem, o Sr. Luís Bretão (presidente do ENDO) assegurou aos atletas da Agualva uma verba de “cem contos” (equivalentes, atualmente, a quinhentos euros) destinados à compra de um terreno para implantação de um campo de futebol na nossa freguesia.

A contrapartida à promessa feita era a oficialização da equipa e a sua adesão à INATEL. E assim foi. A primeira Assembleia Geral do clube realizou-se a 11.06.1975, nas instalações da SFESA. Essa é oficialmente a data da criação do GDRA. Primeira Mesa foi presidida pelo Sr. Duarte Pires, ficando a Direção sob alçada dos Srs. José Dinis, Eduardo Oliveira, Manuel Pereira, Rui Dias, Abel Mendonça e José Nunes. 

A Assembleia, à qual compareceram mais de uma centena de simpatizantes (o clube ainda não tinha sócios) reiterou a escolha das cores até então usadas (o azul, o branco e o vermelho), por serem, desde sempre, associadas à freguesia e aprovou o brasão, da autoria do Sr. Januário Linhares Júnior, que reportava para a história da Agualva (o moinho, ligado à moagem e a pinha, aludindo à tradição da madeira/serrarias).  Na mesma reunião magna foi votada e aprovada a proposta de acréscimo da palavra “Recreativo” ao nome oficial do clube.

À fundação da instituição seguiram-se vários passos tendentes à criação de infraestruturas essenciais à sua consolidação: a obra do campo de futebol e a criação de uma sede.

Poucos meses depois, o GDRA instalou a sua sede num pequeno espaço alugado, no Adro (a loja do Sr. Chico Vieira). Apesar de exígua, a sede, com bar instalado, estava sempre a abarrotar e era altamente rentável. Dela provinham as receitas que permitiram as obras do campo, a gestão de equipa e o cabal compromisso para com os fornecedores e demais entidades. 

O campo foi comprado a partir de dois terrenos, na zo-na da Portela. O primeiro, e principal, foi adquirido ao Sr. Manuel Areias. As obras, financiadas pela ENDO e pelo próprio Grupo Desportivo, demoraram cerca de dois anos, durante os quais a equipa treinou e jogou –
sempre muitíssimo bem recebida e acolhida - na Vila Nova (que já era, na altura, a sua principal rival, futebolisticamente falando). Realce-se que muito do trabalho que permitiu a edificação do Campo da Portela se deveu ao esforço voluntário dos jogadores e de vários outros apaixonados pelo clube, entre os quais os Srs. José Pacheco e Abel Mendonça (pai).

Nunca houve propriamente uma inauguração do Campo da Portela, uma vez que à medida que as obras avançavam e o pelado se tornava praticável, ia sendo usado para os treinos e para os jogos.
Grosso modo, os jogadores de “fim de semana” foram os mesmos que formaram a equipa que aderiu, logo em 1975, ao campeonato INATEL (juntava equipas não inscritas na Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, o que trazia a vantagem da inscrição ser muito mais barata). Passaram, nesta fase, vários treinadores pelo clube, todos eles fora da Agualva. As viagens eram asseguradas por carrinhas de caixa aberta e em carros particulares. Conta-se, com graça,

que certa vez, o Sr. José Aurélio, que havia comprado um carro novo, foi o transportador de uma série de jogadores até às Fontinhas, para dado jogo. As péssimas condições meteorológicas e o estado enlameado do campo, fizeram com que o carro novo chegasse à Agualva todo “castanho” de terra.
Durante a permanência no INATEL (dez anos) o conjunto ficou sempre entre os dois primeiros lugares da classificação, em competições que contavam com mais de vinte participantes (havia freguesias com mais de uma equipa). Depois dos treinos, mas sobretudo depois dos jogos, fervilhavam, tal como hoje, os momentos de confraternização e de partilha, nos quais o clube oferecia um pequeno lanche aos atletas como forma de aproximação e de fomento do espírito de grupo.

 

 

 

 

 

 

 

 


A filiação na Associação de Futebol de Angra do Heroísmo (AFAH) acontece em 1984/85, logo na época seguinte à saída do INATEL, a equipa entrou diretamente na II Divisão de Ilha,
tendo ganhado o 1o Campeonato de sempre da II Divisão de Ilha, logo no ano da estreia.
Começava uma nova fase de grande fulgor futebolístico e de enorme entusiasmo da freguesia à volta do seu clube. Os jogos em casa estavam sempre repletos de adeptos ferrenhos pela Agualva e os ânimos estendiam-se, frequentemente, ao jogo que se tornava “duro”, com vários episódios de jogadores a saírem lesionados no decurso das partidas.

Por proposta da Assembleia Geral, o Campo da Portela é rebatizado “Campo Manuel Pires”, em homenagem ao jovem atleta do clube, de 19 anos, vítima de acidente fatal, em 1985.

Entre os feitos mais notáveis do GDRA, nesses anos, contamse: campeão da II Divisão do Campeonato de Futebol da Ilha Terceira (1984/85); Campeão da I Divisão da Ilha Terceira(1990/91); Vencedores da Taça de Ilha Terceira (1990/91) e Vice-Campeões dos Açores, também em 1990/91 (cf. foto. 1). Nesse memorável ano de 1990/91, o GDRA disputou o título regional (e a subida à antiga III Divisão Nacional) com o Operário da Lagoa. Num duelo a duas mãos, a equipa local perdeu na Lagoa e empatou na Agualva, num jogou “apinhado” de gente e que gerou mais de “duzentos contos” de receita de bilheteira. Essa mesma equipa, nesse ano, fez um particular com o Praiense que militava num escalão superior e ob teve uma brilhante vitória por 2-0. Esse duelo ficou na história local por ter sido arbitrado por António Garrido, à época, o melhor árbitro nacional.
Dessa equipa, campeã de ilha, contavam-se jogadores como João Freitas, Emanuel Monteiro, Serafim Garcia, Roberto Nunes, José Garcia (“Xalhinha”), Francisco Dias e José Arruda. O treinador, que era cumulativamente o presidente do clube, era o Sr. Rui Dias.

Destaque-se que, nessa fase, alguns jogadores recusaram ingressar em clubes de maior destaque e que lhes ofereciam compensação financeira para ficarem a jogar na Agualva, por amor à camisola, de graça.

Paralelamente à equipa principal, na fase da AFAH, existiram sempre equipas dos escalões de formação. Dessas camadas jovens regista-se o enorme êxito da equipa de juniores A que se sagrou campeã regional, na época de 2001/02.

Os obreiros desse título foram: Flávio Godinho, Bruno Silva, Bruno Narciso, Tiago Rocha, Leandro Almeida, Bruno Cruz, Valério Tomé, Flávio Cota, Hugo Rico, Francisco Silva,
Carlos Silva, Vagner, “Venoso”, Paulo César, Nuno Vieira, Márcio Gomes, Leandro Silva e Leandro Alves. Era treinador o Sr. Paulo Marcelino. O conjunto agualvense teve, assim, o mérito e o direito de ir representar as cores dos Açores a Lisboa (cf. foto 2).

 

 

 

 

 


A atual sede do GDRA só foi adquirida nos anos 90, e graças a orçamento do próprio clube. A mesma já recebeu várias obras de intervenção (ex. 2010) e hoje apresenta-se como um espaço moderno, multifuncional, com bar e restaurante, sendo, ainda, o ponto agregador de jogadores, dirigentes, sócios, simpatizantes e demais pessoas que ali encontram um espaço de fruição, mas sobretudo um local de devoção ao clube e à freguesia.

À fase gloriosa, seguiu-se uma era menos briosa do clube que coincidiu com a reformulação dos campeonatos (ex. criação da Série Açores), o que trouxe outras exigências (técnicas e sobretudo financeiras) que levaram ao fim de muitos dos clubes dos Açores. A equipa Sénior foi extinta no ano de 2000/01, permanecendo apenas uma equipa de juniores. Essa situação manteve-se durante dois anos, até 2002, quando ocorreu o fim do futebol de onze na Agualva.
O século XXI trouxe a redução progressiva do futebol de onze na ilha e a ascensão do futsal. E foi nesse contexto que o G.D.R.A apostou, há alguns anos, nessa modalidade. O futsal fez renascer a paixão da freguesia pelo clube ao ponto de os jogos disputados em casa (no pavilhão municipal, construído atrás da escola primária) registarem enchentes de gente que apoiam e galvanizam a equipa .
Após algumas épocas de consolidação e de afirmação do clube, sustentada numa direção muito jovem dinâmica e empreendedora (há projetos em curso como a abertura do núcleo de andebol e a revitalização do campo de futebol de onze), a equipa logrou o almejado título de campeã de

futsal da ilha Terceira, época 2021/22 (cf. foto 3), após terminar a fase regular em segundo e vencido, na final do play-off de 5 jogos, o favorito Posto Santo (3-2).

O título, que parecia destinado à Agualva em 2019/20, mas que a COVID veio adiar, foi obra de jogadores como Sabugueiro, Gonçalo Feijó, André “Setenta”, Hélder Ferreira, Paulo Gomes, João Ramos, Miguel Sousa, Mohamedi Fati, Simão Gomes, António Sousa, Tiago Fagundes, Raul Almeida, Roberto Vaz, Célio Gonçalves, Paulo Ourique, Marcelo Aguiar, Bruno Monteiro, António Rocha e Filipe Correia, comandados pela experiência e mestria do mister Paulo Lopes. A Agualva encheu-se de alegria, de festa e vestiu-se daquele orgulho tantas vezes demonstrado na frase “e a Agualva é o nosso grande amor”.

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