A "Muralha" e a Arquitetura da Água
Seguindo abaixo, pela Rua dos Moinhos (de asfalto), obtém-se uma interessante visão da disposição do aglomerado populacional ao longo da Ribeira da Agualva. Muitos antigos moinhos se encontram por esta rua abaixo, alguns convertidos em moradias, outros abandonados, mas é certo que ainda existem muitas evidências do funcionamento das azenhas ao longo desta Ribeira. Sobre o muro do lado esquerdo da estrada (fig. 39) encontram-se, ainda, vestígios de um antigo rego de água, estando outro – em condições bem melhores – a uma cota inferior imediatamente atrás desse primeiro muro.
Percorrendo a Rua dos Moinhos abaixo, pode ainda se encontrar outros locais de interesse, como seja, uma antiga muralha na Canada do Bexiga (fig. 40), que se conta ter sido construída por soldados franceses que se refugiaram nos matos da Agualva, junto à ribeira.
Esse episódio ter-se-ia dado aquando da conquista da Terceira pelos espanhóis, em 1583, e após dois anos de resistência das tropas portuguesas fiéis a D. António Prior do Crato, as quais teriam alegadamente contado com o apoio de um contingente de soldados franceses. Gaspar Frutuoso, no seu livro “Saudades da Terra”, entretanto, ao referir a rendição das forças francesas, na sequência da conquista e saque de Angra pelas forças Castelhanas no Verão de 1583, escreve:
"Neste meio, os franceses, com seu geral, mossior de Xatra [sic], estavam a três léguas da cidade de Angra, atrincheirados nos moinhos da Agualva, na faldra daqueles matos acima da igreja de Nossa Senhora dos Guadalupe, em sítio forte, bem fortificado, onde tinham água e outras comodidades (...)”.
Contudo, parece ser mais visado acreditar que essa “muralha” mais não é que um exemplo dos antigos alicerces em que eram frequentemente instalados os regos de água e as azenhas, como forma de os suportar e garantir a sua estabilidade.